Ó Brasil,
Por diluvianas chuvas molhada, sua terra
Torna-se meu odor, minha pele.
Ó minha Mãe,
Gosto da beleza dos teus morros
E das cavidades de tuas curvas
Deles tiro meu gênio,
O elixir de quem sou.
Teus filhos carregam em sí
O fogo da vida
Aquele que compadece.
Meu dilacerante exílio
Cortou o cordão
Ferindo tua matriz
Que de amor me cobria
Saudade, simplemente saudade
Acomoda-se a letargia
A sombra de mim.
Tu me diminuis cinzenta luz,
Terra estrangeira, efêmeros raios.
Pálida figura perto de minha mãe
Tuas linhas retas me doem
E tuas estações têm rude natureza
Teus invernos apagam o dia
Tornam mais curtos os instantes.
Tu jogas em meus olhos
Uma tediosa inércia,
Meu ardor se consome
Insuportável obrigação
De viver o que não consinto
Saudade sempre saudade
O tempo meu amigo,
Transforma meu olhar
Sobre uma região, sobre outrem.
De certo, muito cinza
Que, contudo, se decompõe
Colorindo em nuances
Os grandes combates do céu
E volumosas nuvens
Perfuradas
Por focos de luz
Que atigem o solo.
Embora minhas relutâncias, ventos
Chuvas e infinitas planícies.
Retornam, tenazes,
Deixando aos horizontes
O cuidado de me seduzir!
Ó "Plat Pays"*, que ânimo guerreiro!
Mal te julguei
Herança de meu pai!
Me reconcilio.
Lina Kahula
(traduzido do francês por Adhara Desombergh)
* "Le Plat Pays" é o título de uma canção do autor-compositor e cantor belga Jacques Brel, em homenagem ao seu país. 'Plat pays' significa país plano, ou país baixo, nesse sentido em que o relevo da Bélgica, e mais especificamente do território flamengo, caracterisa-se sobretudo por planícies.